quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

TRANSFUSÃO DE SANGUE EM ANIMAIS



 A transfusão sangüínea, também chamada de hemoterapia, constitui-se no ato de transferir sangue de um doador a um receptor que esteja extremamente anêmico e sujeito a risco de vida imediato, independente da causa.

INDICAÇÕES DA TRANSFUSÃO

1- A transfusão é indicada quando ocorre baixa da concentração celular sangüínea acompanhada com sintomas clínicos de anemia ( mucosas pálidas, taquicardia, sopro cardíaco funcional: sopro anêmico e taquipnéia). Como parâmetros de hemoglobina e de hematócrito que exigem transfusão, podemos considerar os seguintes limites mínimos: 

NO CÃO: HEMOGLOBINA................................ 5g/100ml
HEMATÓCRITO................................. 15 % 


NO GATO: HEMOGLOBINA................................ 4g/100ml
HEMATÓCRITO................................. 12% 


2 - Durante as cirurgias prolongadas e traumatizantes com grande perda de sangue.
3 - Nos estados de hipoproteinemias resultantes de prolongada inanição, de enfermidades parasitárias severas, de infecções, de queimaduras e de intoxicações.
4- Como terapia inespecífica estimulante, com a finalidade de restabelecer o sistema imunológico dos animais e nos casos de convalescença prolongada decorrente de tratamentos cirúrgicos. 

CONTRA-INDICAÇÕES

A maior contra-indicação a ser considerada é a que diz respeito à incompatibilidade do sangue transfundido com o do receptor. No entanto, em pacientes com hemorragia aguda e sob risco de vida, o sangue deve ser aplicado como recurso de emergência, sem maiores cuidados.
Nos casos de cães com doenças auto-imunes (anemia hemolítica auto-imune), apesar de não ocorrer incompatibilidade, mas apenas maior destruição de eritrócitos do sangue transfundido, não há inconvêniecia da transfusão, desde que se tomem cuidados adequados para esta situação.
Nos animais, por não existir anticorpos contra as hemáceas que foram transfundidas, na primeira transfusão não será necessário fazer o teste de compatibilidade, mas a partir da segunda, já poderá ocorrer algum tipo de reação como urticária no caso dos cães e parada respiratória no caso dos felinos.
 Toda transfusão de sangue ou de seus componentes tem caráter semelhante ao de um transplante. É, geralmente, um procedimento de urgência, e não deve ser encarado como um tratamento, mas apenas como medida de suporte, a fim de manter a sobrevida até que seja possível o diagnóstico, tratamento e recuperação. Por isso, não se deixe enganar pela impressão de pronta recuperação que o animal poderá apresentar logo após a transfusão. 
Este estado poderá ser provisório se a causa do problema e suas consequências não foram eliminadas. Após uma tranfusão, deve-se aumentar os cuidados e a observação pois, como um transplante, podem ocorrer reações e "rejeições".
A maior parte dos casos que exigem transfusões são sérios, de surgimento repentino e inesperado, e apenas o clínico, à luz dos dados clínicos e laboratoriais, poderá tomar a decisão por esta escolha, já que existem riscos graves associados. A maioria dos casos de transfusão está associada a anemia crítica ou perdas sanguíneas por problemas hepáticos ou renais, infecções por parasitas do sangue (babesiose, ehrlichiose, haemobartonelose), intestinais (verminoses ou protozooses) ou mesmo parasitas externos (pulgas e carrapatos), deficiências alimentares, acidentes, intoxicações e até grandes cirurgias.
Os cães e gatos podem doar e receber sangue de seus semelhantes, respectivamente, e, assim como o homem, também tem diferentes tipos e grupos sanguíneos. No Brasil, a tipagem destas espécies ainda não está disponível e, por enquanto, realizamos alguns testes "cruzando" o sangue do doador e do receptor para prever possíveis reações. Será colhido então, imediatamente antes da transfusão, com objetivo de realizar provas de compatibilidade, pequena mostra de sangue do animal que irá receber o sangue, que também será usada como parâmetro para avaliação dos resultados desta intervenção. Essas provas não substituem a tipagem, nem conseguem ser absolutamente seguras. Mesmo assim, elas podem prever e evitar possíveis e graves reações.
O início da transfusão é bem lento, a não ser em urgências e grandes perdas, para que se possa observar qualquer sinal de reação. Após os primeiros 30 minutos, a velocidade vai aumentando até atingir uma média que permita um tempo total de até 4 horas.
Para acompanhar o estado geral, sinais de reação e convalescença, periodicamente são avaliados diversos parâmentros como temperatura, frequência cardíaca e respiratória, etc. A presença do proprietário é fundamental para assegurar mais tranquilidade ao animal. 



TRANSFUSÃO DE SANGUE EM GATOS
 
O método é bastante semelhante ao empregado em cães. Usa-se o sangue heparinizado, retirado por punção cardíaca ou da jugular de um doador sadio. Este deve ser de bom tamanho, acima de 4Kg, podendo doar de 100 a 170 ml. A via de transfusão nos adultos é a jugular e a cefálica; nos filhotes (gatinhos), utiliza-se a fossa tracantérica (intra femural).
No caso do sangue felino, poderá ficar estocado por até 30 dias sob refrigeração em geladeira comum.
De modo geral, 20 a 60 ml de sangue são utilizados em cada transfusão normalmente, os gatos vomitam após a transfusão e, naqueles extremamentes anêmicos, a morte pode ocorrer durante a mesma, sendo desconhecida a causa.
 Alimentação deve ser evitada antes e depois da transfusão. Serão coletadas outras amostras de sangue após 1, 24 e 72 horas após a transfusão, para acompanhamento da sobrevivência (viabilidade) das células transfundidas. Isto para se estar atento a uma possível rejeição. Após a primeira transfusão, aumentam muito as chances de ocorrerem reações. Mesmo que não aconteçam durante ou logo após a transfusão, que geralmente são as mais graves, reações de diferentes tipos podem se manifestar tardiamente até 3 semanas. As transfusões subsequentes, se necessárias, devem ser realizadas, preferencialmente, em até 5 dias da primeira para minimizar o risco de sensibilização e reação a esta.
 

DOADOR

O animal deve ter idade superior a um ano, com peso igual ou superior a 25 Kg, deve ter temperamento dócil para facilitar a coleta. Deve ser também, clinicamente sadio, com boa condição física, livre de doenças infecciosas e estar com a vacinação em dia.
Normalmente, utiliza-se o doador negativo para os antígenos CEA-1 e CEA-2 (canine erythrocytes antigens), pois cães, submetidos a transfusões previamente sensibilizados com estes antígenos, reagem com uma hemólise severa.

COLETA

Caso haja necessidade, o doador deve ser tranqüilizado com cloridrato de clorpromazina na dose de 3 a 5 mg/Kg e ao total da dose deverá ser adicionado atropina na dose de 0,4 mg/Kg. O tranqüilizante deve ser injetado por via endovenosa, pela veia cefálica. Passados 15 minutos, o animal estará pronto para a coleta.



REGIÕES PARA A COLETA

O sangue deve ser obtido da veia jugular, com punção do vaso com agulha grossa ou catéter. Uma outra técnica utilizada é a punção cardíaca, com agulha grossa, fazendo a punção no ventrículo direito ou esquerdo com o animal anestesiado, porém, essa via é a menos recomendada.

QUANTIDADE DE SANGUE A SER COLETADA

A quantidade de sangue que deverá ser retirada, de um modo geral, é de 20 ml/Kg, sendo que a coleta poderá ser repetida a cada 2 semanas.

ARMAZENAMENTO

O sangue retirado deverá ser armazenado em recipientes de plástico ou vidro contendo uma solução de anticoagulante. A quantidade de anticoagulante dependerá da quantidade de sangue retirado, mas podemos dizer que a quantidade a ser utilizada deverá obedecer a proporção de 4 ml de sangue para 1 ml de anticoagulante, ou seja, se for retirado do animal 250 ml de sangue, o recipiente deverá conter 62,5 ml de anticoagulante.
Os anticoagulantes mais utilizados são o ACD (ácido cítrico, citrato de sódio e dextrose) e o CPD (citrato de sódio, fosfato e dextrose). A dextrose contida nestes anticoagulantes serve de nutriente e meio de sobrevivência para os eritrócitos.
O recipiente contendo o sangue deve ser identificado, datado e armazenado sob uma temperatura de 5ºC, em geladeira comum. Desta forma poderá ficar estocado por até 21 dias.

MODALIDADES DA TRANSFUSÃO 

Duas alternativas decorrem do uso do sangue: volume total ou somente volume de eritrócitos.
Para se fazer a transfusão do volume total de sangue, indicado na maioria dos casos, devemos misturar suavemente o conteúdo do frasco para que plasma e glóbulos sejam homogeneizados, pois que os elementos figurados do sangue mantido em geladeira sedimentam, separando-se do plasma nos casos de anemia crônica, quando apenas os eritrócitos são requeridos , o plasma deve ser retirado do frasco antes do início da transfusão. eventualmente pode-se armazenar o frasco de boca para baixo, de modo que os eritrócitos sedimentados sejam os primeiros a serem esgotados, evitando-se assim os inconvenientes de outros processos que poderiam acarretar contaminação nas manobras de separação do plasma.
Para as transfusões, o sangue não necessita de aquecimento; contudo, para pacientes com hipotermia, convém aquecê-lo previamente. isto poderá ser conseguido mergulhando-se o frasco ou mantendo-se o equipo em água morna.

VIAS DE TRANSFUSÃO 

Dependendo do porte e da idade do animal, três vias distintas podem ser utilizadas para transfusão: a endovenosa, a intraperitoneal e a intrafemural.

A - VIA ENDOVENOSA
A via endovenosa é a mais usada, devendo ser preferida pelos bons resultados que oferece. apresenta maior facilidade na contenção do animal preso à mesa e, na maioria das vezes, não há necessidade de se manter auxiliares ao seu lado, por ocasião da transfusão. no entanto, é aconselhável a colaboração do proprietário junto ao paciente, pois que, geralmente, a sua presença transmite mais tranquilidade ao animal.
As safenas, as cefálicas e as jugulares são as vias comumente usadas nas transfusões.

B- VIA INTRAPERITONEAL
Os resultados das transfusões feitas por esta via tem sido contestados por alguns autores. no entanto, outros a recomendam apenas nos casos em que o paciente é portador de anemia crônica. em nossa prática, não temos obtido bons resultados com esta via.

C- VIA INTRAFEMURAL
É indicada principalmente em cães jovens (filhotes), pela facilidade em se conseguir a perfuração do osso femural e o sangue ser absorvido em 75%, passando rapidamente para a circulação. 



DOSAGEM DO SANGUE NAS TRANSFUSÕES 

Na prática, as dosagens de sangue tem sido feitas de modo arbitrário, estabelecendo-se um critério de transfusão entre 10 a 20 ml de sangue por Kg de peso. Alguns autores recomendam dosar previamente a hemoglobina do paciente r, partindo-se do princípio de que existem 7 gramas de hemoglobina em cada 100 ml de sangue doado, pode-se calcular a quantidade necessária a ser transfundida. No entanto, o sistema arbitrário, por ser mais simples, tem sido mais usado, demonstrando resultados satisfatórios.
O gotejamento do sangue deve ser iniciado lentamente (30 gotas por minuto), até completar uma hora. Se, durante este período, o paciente não apresentar reações secundárias (urticária), o gotejamento pode ser aumentado para 80 gotas por minuto ou mais. Nas hemorragias agudas, em casos extremos, a fim de salvar a vida dos pacientes, deve ser injetada a maior quantidade possível de sangue, iniciando-se com 80 gotas por minuto ou mais.
A manifestação de reações secundárias é fator determinante para a suspensão da transfusão. a quantidade de sangue transfundida deve ser o suficiente para elevar o hematócrito a um nível de 30%, porém, na maioria das vezes, hematócritos pouco acima de 20% já são suficientes. não se deve eleva-lo a níveis normais ou muito próximos destes, sob risco de supressão do estímulo eritropoiético.



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