domingo, 5 de outubro de 2014

Vídeo de como fazer um arranhador para seu gato


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                                                    Gato ao crepúsculo

Poeminha de louvor ao pior inimigo do cão

Gato manso, branco,
Vadia pela casa,
Sensual, silencioso, sem função.
Gato raro, amarelado,
Feroz se o irritam,
Suficiente na caça à alimentação.
Gato preto, pressago,
Surgindo inesperado
Das esquinas da superstição.
Cai o sol sobre o mar.
E nas sombras de mais uma noite,
Enquanto no céu os aviões
Acendem experimentalmente suas luzes verde-vermelho-verde,
Terminam as diferenças raciais.
Da janela da tarde olho os banhistas tardos
Enquanto, junto ao muro do quintal,
Os gatos todos vão ficando pardos.

Millôr Fernandes

Ode ao gato

Ode ao gato

    Os animais foram 
    imperfeitos, 
    compridos  de rabo, tristes 
    de cabeça. 
    Pouco a pouco se foram 
    compondo, 
    fazendo-se paisagem, 
    adquirindo pintas, graça, vôo. 
    O gato, 
    só o gato 
    apareceu completo 
    e orgulhoso: 
    nasceu completamente terminado, 
    anda sozinho e sabe o que quer.
    O homem quer ser peixe e pássaro
    a serpente quisera ter asas,
    o cachorro é um leão desorientado,
    o engenheiro quer ser poeta,
    a mosca estuda para andorinha,
    o poeta trata de imitar a mosca,
    mas o gato
    quer ser só gato
    e todo gato é gato
    do bigode ao rabo,
    do pressentimento à ratazana viva,
    da noite até os seus olhos de ouro.
    Não há unidade
    como ele,
    não tem
    a lua nem a flor
    tal contextura:
    é uma coisa só
    como o sol ou o topázio,
    e a elástica linha em seu contorno
    firme e sutil é como
    a linha da proa
    de uma nave.
    Os seus olhos amarelos
    deixaram uma só
    ranhura
    para jogara as moedas da noite
    Oh pequeno
    imperador sem orbe,
    conquistador sem pátria
    mínimo tigre de salão, nupcial
    sultão do céu
    das telhas eróticas,
    o vento do amor
    na imterpérie
    reclamas
    quando passas
    e pousas
    quatro pés delicados
    no solo,
    cheirando,
    desconfiando
    de todo o terrestre,
    porque tudo
    é imundo
    para o imaculado pé do gato.
    Oh fera independente
    da casa, arrogante
    vestígio da noite,
    preguiçoso, ginástico
    e alheio,
    profundíssimo gato,
    polícia secreta
    dos quartos,
    insignia
    de um
    desaparecido veludo,
    certamente não há
    enigma
    na tua maneira,
    talvez não sejas mistério,
    todo o mundo sabe de ti e pertence
    ao habitante menos misterioso,
    talvez todos acreditem,
    todos se acreditem donos,
    proprietários, tios de gatos, companheiros,
    colegas,
    discipulos ou amigos
    do seu gato.
    Eu não.
    Eu não subscrevo.
    Eu não conheço o gato.
    Tudo sei, a vida e seu arquipélago,
    o mar e a cidade incalculável,
    a botânica,
    o gineceu com os seus extravios,
    o pôr e o mesmos da matemática,
    os funis vulcânicos do mundo,
    a casaca irreal do crocodilo,
    a bondade ignorada do bombeiro,
    o atavismo azul do sacerdote,
    mas não posso decifrar um gato.
    Minha razão resvalou na sua indiferença,
    os seus olhos tem números de ouro.
    (Navegaciones y Regresos, 1959)
                                                                    Pablo Neruda